domingo, 27 de novembro de 2016

Sobre um conto de Machado de Assis

Alguns anos atrás li um conto de Machado de Assis que numa cidade existia uma mulher muito rica. Naquela época, as pessoas da alta elite fingiam ser cultas e amantes da cultura, pois isso era sinônimo de elegância e riqueza.
A casa dessa mulher era bastante frequentada por pessoas de posses e que tinham algum prestígio social. Nessa casa, ela promovia a cultura através de musicais de piano e na maioria das vezes fazia recitais de poesias.
Existia na cidade um Poeta muito talentoso que encantava multidões com seus versos e pensamentos. Diariamente ele frequentava a Praça semeando as mais lindas poesias e dessa forma sua fama foi se espalhando pela cidade.
Porém, começou a perceber que essa mulher ignorava sua existência nem tanto pela sua falta de beleza física e sim pela singeleza como ele se vestia. Dessa forma, em todos os recitais de poesias que eram promovidos naquela casa, inclusive com Poetas de cidades vizinhas, a ele nunca chegara um convite nem ao menos para ser ouvinte.
Certa tarde, antes de ir para seu rotineiro passeio na Praça, foi até seu armário de roupas. Pôs a roupa mais linda que ele tinha que o deixou muito elegante.
Quando terminou de declamar suas poesias e aplaudido pela multidão, essa Senhora se aproximou e eufórica, do nada o convidou para um recital de poesias na sua casa logo mais a noite.
Satisfeito e cortês, o Poeta agradeceu o convite e disse que iria sim.
Enfim chegou a noite, a sociedade inteira já reunida para esse recital. Entre taças de bebidas caras e comidas sofisticadas sorrisos falsos de amizades interesseiras.
Quando de repente, alguém toca a campainha. Finalmente, era o Poeta!
Ao abrir a porta, essa Senhora se depara com a imagem de um homem trajando, como de costume, roupas simples, com uma caixa na mão embrulhada com papel presente.
Sem entender o que estava acontecendo, quando ela abriu a caixa, lá estava bem arrumadinha a roupa elegante que o Poeta usou durante a tarde e que só por aquilo ela o convidou a ir à sua casa.
E ele disse: - Aí está a roupa que a Senhora convidou.

*IMORAL* DA HISTÓRIA:

"Disse-me uma vez uma amiga Escritora que numa sociedade oportunista e cheia de falsidade, a pessoa vale o que veste! E assim como a personagem rica do conto, somos rodeados por pessoas de pouco caráter e que em tudo querem tirar proveitos pessoais, mesmo que isso prejudique o próximo. Mas, pessoas assim, a vida por si só trata de preparar o tropeço. E olhe que tropeçar no próprio passo é de uma aprendizagem sem igual".

Romário Braga.

Pentecoste - Ceará - Brasil, 2016.

(Protegido por Lei de Direitos Autorais)

Nenhum comentário: